quinta-feira, 21 de janeiro de 2010


A alguns já falei do Pe.Gaspar... a outros, nao tive oportunidade nem contexto... mas, recordo-o frequentemente em dialogos que vou tendo!! Tive o prazer de o conhecer e de viver com ele uma semana missionária, lado a lado! Quantas conversas, quantos ensinamentos, quantos silêncios, quantas orações... e foi (apenas) uma semana!
Hoje está longe... admiro a ousadia de ser, de querer, de se entregar! Admiro a coragem e a determinação com que me disse em Setembro "Filipa, se não for agora, a minha idade já nao me permite ir mais... e vou, vou para lá ficar!" com um sorriso tão lindo!
Quem me dera ter tido a oportunidade de o conhecer um pouquinho mais, de aprender um pouquinho mais, de ser um pouquinho mais junto de um senhor que me conseguiu mostrar aquilo que tantos não conseguiram durante anos: a simplicidade com que devemos encarar os desafios!
Deixo-vos aqui a primeira parte de um texto do Pe.Tony Neves... se gostarem e quiserem, posso depois colocar as restantes partes!
São os testemunhos de Vida que nos mostram que nada é impossível e que o caminho da Santidade está pertinho de todos nós... agarremos e avançaremos!


Angola acolheu-o no tempo colonial e, depois, quando a guerra estava ao rubro. Anunciou o Evangelho, apoiou os pobres, formou seminaristas e leigos, escapou a uma emboscada. Em Portugal, dividiu a missão pela Formação, Animação Missionária e ‘Justiça e Paz’. Abriu, aos 63 anos, uma nova página do seu vasto curriculum missionário. A Amazónia recebeu-o esta semana, de braços abertos.

Angola, primeiro amor
Angola recebeu a generosidade e o fogo dos primeiros anos de Missionário Espiritano. Lá chegou em 1971: ’Conheci tempos de paz. Então, deixava a residência da Missão e ia, de aldeia em aldeia, visitar os cristãos. Dormia por lá, seroava à volta da fogueira, adormecia tranquilo e acordava com o despertar da natureza’.

Missão a norte
Chegou a Portugal em 1975. Dividiu a sua missão pela animação missionária e, sobretudo, pela formação de futuros padres, como director do Seminário Menor Espiritano em Viana do Castelo e do Seminário Maior de Filosofia em Braga. Com a paixão pela Missão que lhe ardia na alma, conseguiu libertar-se dos trabalhos aqui e voltou ao Huambo. Estávamos nos tempos quentes de 1986, com a guerra na máxima força.

Emboscada em Angola
A sua Missão passava muito pela formação, com uma aposta forte na Filosofia e Humanidades: ‘com a guerra civil já muito acesa, voltei para leccionar no Seminário Interdiocesano de Cristo Rei e colaborar na formação dos seminaristas espiritanos. Foram tempos muito difíceis; rezava para não deixar embotar a sensibilidade, tal o sofrimento à minha volta’.
Os riscos da missão em tempo de guerra podem ser bem maiores. Quem arrisca fazer-se à estrada, candidata-se a fazer a última viagem. Foi quase o que aconteceu naquele 25 de Agosto de 1988, data que o P. Gaspar não esquecerá nunca: ‘caí numa emboscada da Unita, a meio caminho de Benguela para o Huambo. Foi terrível, acima de tudo porque houve 10 mortes de pessoas indefesas. Não sei como saí ileso, com o carro todo cravado de balas e de estilhaços de granadas. Na minha oração perguntava a Deus porquê eu e não os outros. Acho que tenho uma dívida enorme a saldar, a da minha vida e também a de não ter ficado traumatizado, para além da riqueza de tantas pessoas e coisas boas, ou não fossem as flores mais belas as que vêm rodeadas de espinhos’.

1 comentário:

Micael R. Vidal Silva disse...

Obrigado Pipa...
as vezes pensamos que passamos por coisas mas... que as nossas missões são arriscadas... que se formos ao outro lado da rua podemos ser assaltados...
Mas faz bem ouvir estes realtos de quem ja passou muito e não é por isso que não deixa de ir de novo para a missão... Temos de ser fortes... temos de aprender com o padre Gaspar... temos de ser verdadeiramente fortes... e sair elesos das embuscas... daquelas da palavra literal... e das da vida...
Obrigado Pipa pela partilha... e partilha mais textos...

Beijo
Micael Vidal